sexta-feira, 19 de maio de 2017

Reunião Improdutiva e Exposição Desnecessária

Boa tarde pessoal - tudo bem ? Estou escrevendo essa postagem para relatar uma má experiencia que tive com a primeira interação entre a nossa equipe e a equipe da empresa com a qual estamos fazendo a fusão.

Em uma reunião convocada ao meio dia para iniciar as 13:00 horas, fomos apresentados ao time de quatro pessoas da empresa que estamos fazendo a fusão (para facilitar vou chamar a minha empresa atual de empresa A e a empresa com a qual estamos fazendo a fusão de empresa B). Na abertura da reunião foi solicitado para que o time operacional ficasse na sala e os gestores deveriam sair.

Antes de isso acontecer, eu solicitei saber qual era o motivo da reunião para entender onde o meu time poderia contribuir - já que eles tinham atividades a serem realizadas e uma reunião sem aviso previo e sem escopo definido nao iria ajudar a atingir os objetivos da empresa. Depois desse comentário (um pouco irônico para marcar a minha posição frente as pessoas da empresa B), o pessoal me informou que eles queriam mapear os riscos que o pessoal enxergava em cada projeto e verificar se era necessario alguma contigencia adicional.

Como me pareceu uma atividade interessante para a primeira interação, eu deixei o meu time por lá e me retirei da sala juntamente com os outros gestores. Depois de quatro horas, fomos chamados a retornar para a sala. Então, o time da empresa B começou a apresentar orgulhosamente a contingencia necessária para a execução do projeto - algo em torno de R$120 milhões. A margem de lucro prevista no projeto era de R$240 milhões, ou seja, metade da margem seria alocada para contingencia - e obviamente, com uma margem 50% inferior o projeto deixava de ser viável.

Nesse momento, eu quase infartei ... rsrsrsrs. Questionei quais os riscos identificados que justificavam uma contingencia na margem do projeto desse tamanho, já que nunca antes na história dessa empresa (ja ouvi isso antes em algum lugar) havia sido colocada uma contigencia desse tamanho e nunca entregamos um projeto com margem menor do que a planejada. Muito pelo contrário, normalmente entregamos projetos com margem maior do que o planejado, pois conseguimos negociar custos e obter vantagens economicas nao previstas inicialmente no projeto.

A principio o pessoal da empresa B nao queria apresentar os riscos detectados. Então, a Diretora Financeira (muito competente por sinal) falou que nao iria fazer nenhuma modificação nos projetos enquanto ela pessoalmente nao tivesse verificado risco por risco.

O pessoal da empresa B concordou em nos mostrar os cinco maiores riscos identificados. Vou relatar os riscos para voces terem uma ideia:

1 - Risco de Morte de Funcionário por Acidente de Trabalho (Acidente Fatal): isso poderia paralizar as atividades do projeto enquanto as investigações fossem conduzidas pelas autoridades locais. Então, eles consideraram os custos do projeto ficar paralisado por 06 meses.

2 - Risco de Não Pagamento pelo Cliente: devido a mudança do cenario politico no Brasil, incluiram o risco do cliente nao pagar o projeto; mesmo o cliente tendo um balanço para lá de robusto. Com isso, obviamente a margem do projeto ficou negativa pois ja fizemos desembolsos para construir parte do projeto e passaram a considerar que nao haveria entrada de dinheiro.

3 - Risco de Enchente: consideraram risco de enchentes na região do projeto (mesmo sendo projeto no Nordeste - no meio do sertão nordestino), inviabilizando a entrega dos componentes e causando multas por atraso.

4 - Risco de Queda de Pontes: atrelado ao risco das enchentes, consideraram o risco de queda de pontes no percurso e a falta de entrega de componentes, causando atrasos e aplicação de multas por parte dos clientes.

5 - Risco de Fornecimento: considerado que os fornecedores nao poderiam entregar componentes criticos (mesmo tendo desenvovido no minimo duas fontes de fornecimento para cada item) e causar atrasos no projeto.

Como voces podem ver, com a inclusao de todos esses riscos - que caracterizamos na empresa A como risco do negócio e tomamos ações para mitigar esses riscos - o projeto fica inviável. 

Agora o pior de tudo - as quatro pessoas da empresa B tinham menos de 30 anos, mas eram formados em faculdade de primeira linha, com carreira internacional. Sabe aquela postura arrogante de quem acha que conhece tudo ? Quando oito gestores (incluso eu) da empresa A mostraram o tamanho do absurdo, o pessoal da empresa B ficou sem resposta para explicar a cagada enorme que estavam fazendo.

Já vi que eu e meus colegas vamos sofrer um pouco com essa transição. O processo de fusao vai ser um pouco mais traumático do que o esperado. O desafio foi conseguir motivar o time quando eles estavam vendo o tamanho da cagada da empresa B. O pior de tudo é que pessoas da empresa A vao ser cortadas (talvez eu também) para dar lugar aos meus amigos com MBA no exterior e que colocam o risco de alguém morrer como contingencia em um projeto.

Um grande abraço pessoal - (porque hoje já deu e vou para casa ver minha familia).


26 comentários:

  1. Isso que você descreveu me parece um trabalho de faculdade todo teórico feito por quem não sabe PN.
    Já passei por isso. Num dos meus primeiros trabalhos apresentei um plano todo elaborado como os que aprendi na faculdade. Era totalmente inútil. Na empresa vi que faziam de modo mais prático com as informações que realmente eram relevantes. Por um tempo tive um pouco de vergonha disso.

    Cara que não tem 10 anos na trincheira não sabe fazer muita coisa prática, tirando se for de uma área técnica. Infelizmente a maioria sai da faculdade achando que merece um grande salário.

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  2. Ainda estou na fase da faculdade e de estágio, mas com certeza a característica de ser extremamente prático vai me ajudar bastante na transição rsrs.

    Não sei se lembra de mim, no final do ano passado fui um dos que pediu dicas para entrevista de estágio, estranhamente o estágio veio atrás de mim a uns 5 meses atrás e hoje estou felizão no estágio, valeu as dicas, ta sendo um aprendizado tremendo porque meu chefe literalmente ta tocando o foda-se se sou estagiário ou não e poem eu pra tocar as reuniões até no lugar dele.

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    1. Ola anon - tudo bem ? Eu me lembro sim da sua busca por estagio, que bom que encontrou e que esta gostando. Tem de procurar mesmo absorver os conhecimentos, principalmente observado com oa liderança se comporta em determinadas situações e o fato do seu chefe já te indicar para substituir ele em reuniões, indica que ele tem confiança em voce e que está no caminho certo.

      Parabéns e um grande abraço,

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  3. De fato os colegas aí se mostraram bem amadores totalmente fora da realidade. Em meu MBA o professor abordava esses tipos de riscos, mas claro que ele ressaltava esses critérios que você citou EP. Risco de morte? Taxa de acidente no trabalho está alta? Enchentes, qual a estatística que comprova uma possível situação dessas?
    E por aí vai. Claro que pode acontecer, mas se o cara pensar assim,que nem saia de casa,ou melhor nem levante da cama pra evitar acidentes...

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    1. Pois é anon - existem alguns riscos que sao chamados de risco do negócio. Esses sao so riscos que afetam todos os competidores daquele mercado - por exemplo, o risco de um acidente de trabalho com morte. Saber diferenciar riscos do projeto com riscos do negócio é fundamental para voce manter seus custos competitivos.

      Um grande abraço,

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  4. Rapaz, considero o concurso a melhor coisa a se fazer.

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    1. Ainda bem que tudo vai quebrar de vez pra pararmos com essa mentalidade.

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    2. Concurso é a melhor opção... pelo menos o seu emprego fica blindado de politicagem corporativa. Numa situação dessas então, de Fusão ou Aquisição, o seu emprego fica em risco, por mais que você seja um excelente profissional...

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    3. Você não está a salvo de politicagem, pelo contrário. Órgãos públicos são lotados de chefes ligados à política e quem pisa fora da linha sofre consequências.

      Vou contar um exemplo. Minha mãe trabalhou anos em um órgão de ensino e tinha uma "convocação" para complementar o salário. Vivia com medo de perder a convocação a cada eleição, pois mudava o chefe indicado, e assim se aposentar com metade do salário.

      Órgãos públicos são pura politicagem, nem se compara. A diferença é que o emprego em si é blindado, então quem não quer crescer pode fazer o mínimo ou menos que isso que nada acontece.

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    4. O que você diz é verdade se você tiver interesse em ter cargos que dependam de indicação ou de eleição. Se você não quer pegar cargo político você pode seguir tranquilo. No meu emprego mando o porrete em tudo que vejo de errado doa a quem doer. Não ligo se gostam ou não de mim o que me interessa é se esta certo ou errado e pronto. Outro dia os chefes queriam ceder um professor da minha área para outro campus então eu questionei que eu não apoiava isso pois a carga horária poderia aumentar para os professores da nossa escola e questionei sobre documentos que justificassem a ida desse professor para outro campus. Sabe o que aconteceu? Não apresentaram documento algum e o funcionário não foi. Me olharam com cara de "esse cara é um bosta" e pronto tudo seguiu tranquilo. Imagina se eu quisesse um cargo de indicação eu nunca conseguiria agindo assim.

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    5. Politicagem tem em todo lugar, tanto na iniciativa privada quanto na pública. É importante dizer que tem pessoas que gostam de puxar saco, fazer média, fazer aquela social falsa, contar vantagem, falar o que os chefes querem ouvir etc e essas pessoas estão todo o tipo de empresa, faz parte de suas personalidades e esses alimentam esse sistema de gestores arrogantes e prepotentes.
      Tem também uma nova geração que acha que sabe mais do que sabe de fato, mas isso tudo também atribuo muito a personalidade.
      Esse tipo de pessoa que gosta de representar um personagem dentro de um local de trabalho, acaba em muitos momentos sendo nocivo ao ambiente e aos colegas. Porque eles passam aos superiores uma visão do local ou de determinada atividade que não é real, que no que é passado por essas pessoas costuma ser uma visão mais positiva do que a realidade.
      Dessa forma os superiores acabam confiando a determinadas pessoas/grupos/pessoas atividades ou metas que são difíceis de serem realizadas ou cumpridas, mas que esses políticos do trabalho safados não tem coragem de dizer, pois não querem de forma nenhuma correr risco de arranhar suas imagens de suposta eficiência.
      E volto a dizer isso também acontece no serviço público.

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    6. Pessoal, por favor, não interpretem erroneamente o meu comentário. Em momento algum, eu disse que não há politicagem no setor público. Pelo contrário, a politicagem é maior ainda do que no setor privado. A questão é que, se você for servidor público estatutário, não corre o risco de perder o seu trabalho devido a estas politicagens. Notem que não incluo nesta lista cargos comissionados ou cargos de confiança, que não têm a estabilidade garantida pela CF. Por outro lado, eventos no setor privado que fogem totalmente do seu controle (M&A, que é o exemplo do que está ocorrendo na empresa do Executivo Pobre; troca de Diretoria/Gerência; falência da empresa etc), colocam o seu emprego em grande risco sim.

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    7. Só pra complementar o que eu disse acima, leiam o último post que saiu no blog "Termos Reais":
      https://termosreais.wordpress.com/2017/05/21/corporate-world-a-survival-guide/

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  5. Vou contar o motivo de eu ter me tornado professor federal (funcionário público). Quando entrei na UFV eu já dava aulas de Matemática e logo estava eu trabalhando em diversas escolas. Eu dava aula em Viçosa MG, Ponte Nova MG, Ouro Preto MG entre outras cidades. Já cheguei a dar 14 aulas em um dia. Cada dia eu estava em uma cidade diferente e curtia isso bastante além de ganhar muito dinheiro inclusive mais do que eu ganho hoje em dia. Só que a idade foi chegando, cada dia em uma cidade diferente foi se tornando um problema para mim e eu somente com graduação não conseguiria entrar em uma federal de forma alguma. O que eu fiz? Pedi demissão de alguns dos meus empregos e voltei para a UFV fiz mestrado e logo em seguida passei em um concurso federal. Hoje ganho menos que antes mas dou, no máximo, 18 aulas. Lembrar que já cheguei a dar 14 aulas em um dia. Então é isso não existe essa de funcionário público é ruim ou funcionário privado é ruim cada um faz o que acha melhor para sua vida. Hoje ganho menos que antes mas trabalho menos também e tenho tempo para levar e buscar minha filha na escola entre outras coisas mais importantes do que o próprio dinheiro em si.

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  6. Muito bacana sua história...

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    1. Olá anon ... muito obrigado pela visita e pelo comentário.

      Um grande abraço,

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  7. Que fase hein EP!

    Mas é isso...toda transição de gestão é traumática, tanto na iniciativa privada como na adm. pública.

    Infelizmente nesse processo nem sempre os melhores são os que "sobrevivem".

    Te desejo sorte!

    Abraços!

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    1. Olá SM - tudo bem ? concordo em 100% com o que voce disse, nem sempre os melhores sobrevivem. Algumas semanas atras tivemos o desligamento do Diretor Financeiro, um dos melhores caras de finanças que já conheci, e foi substituido por uma pessoa que com certeza nao tem a mesma experiencia ... infelizmente, isso irá ocorrer bastante durante a acomodação do processo de F&A.

      Um grande abraço,

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  8. A situação começa a ficar preocupante quando as pessoas começam a se preocupar em mostrar serviço do que mostrar resultado. Me pareceu bem o caso.

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    1. Ola Enrqieucendo - tudo bem ? Isso acontece muito no mundo corporativo. Em grandes corporações, voce tem muitos niveis na organização e muitos deles poderiam facilmente ser eliminados. Para isso nao acontecer, as pessoas tentam justificar o seu trabalho mesmo que seja só aparencia.

      Um grande abraço,

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  9. Ter filho hoje em dia é arriscado. Ainda mais que o PSDB deve sofrer junto do Aécio 2 milhões.

    Podia esperar um outro emprego mais tranquilo e depois produzir o herdeiro.

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    1. Ola anon - nunca vai ter o momento ideal de ter um filho, porque ter filho significa aumento de despesas e nunca é um bom momento para aumentar despesas. Na epoca que eu nasci havia a questão da hiperinflação, quando meu pai nasceu havia a Guerra Fria, quando meu avo nasceu havia a II Guerra Mundial, quando meu bisavo nasceu havia a I Guerra Mundial ...

      Nao tenho certeza se vou algum dia ter um emprego mais tranquilo; e este momento de fusão é passageiro - ou eu sobrevivo e mantenho o emprego ou sou demitido e terei de encontrar outro emprego. Mas decidimos ter filho quando a Sra EP conseguiu o contrato de 05 anos com valor que paga todas as nossas despesas - ou seja, durante os proximos 05 anos eu "até posso" ficar sem emprego, sem impactar as finanças e reservas acumuladas ate o momento.

      Acho que essa é uma boa garantia e dificilmente terei uma garantia maior do que essa para colocar um herdeiro no mundo.

      Um grande abraço,

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  10. EP trabalhei por algum anos em uma multinacional Alema de 1° linha, quando você citou o perfil e a postura do pessoal pude enxergar essa empresa. Eles dão muito mais valor ao nome da faculdade e intercâmbios no exterior do que a experiência profissional, não julgo errado, apenas não é algo que faria caso fosse responsável da empresa.

    Se tivesse que apostar acredito que essa empresa que está em processo de fusão com a sua começa e termina com a letra S...

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