Ola pessoal, tudo bem ? Nao tinha objetivo de escrever nenhuma postagem hoje, mas surgiu um tempo aqui e decidi compartilhar algumas reflexoes do que vi nas ultimas semanas. Apenas para colocar todos no mesmo contexto, nas ultimas semanas foi o fechamento de resultados na empresa - a nossa empresa utiliza o ano fiscal de Outubro - Setembro e nao de Janeiro - Dezembro como a maior parte das empresas.
Como foi o fechamento dos resultados, também chegou o momento da avaliação de desempenho dos colaboradores. Esse processo ja havia começado meses atras (ate mencionei o resultado da avaliação de desempenho do meu chefe) e essa etapa final é o que chamam de "ajuste fino". Só o nome ja começa a dar medo - mas o ajuste fino é o processo onde, teoricamente, é feito um ajuste para garantir que colaboradores nao sejam prejudicados porque o chefe é muito exigente e nao sejam beneficiados porque o chefe é muito complacente. Na teoria faz todo o sentido, mas na pratica .... a situação é mais complicada.
O processo consiste em reunir todos os lideres (gerente senior e diretor) e avaliar cada um dos funcionários em cada unidade de negocios. Especificamente na unidade de negocios onde eu trabalho nós temos 380 funcionários que se encaixam na posição de ser avaliados dessa forma. Os demais sao avaliados somente em relação aos resultados da empresa e recebem todos o mesmo bonus ou Participação nos Lucros e Resultados.
O processo inicia com o gestor apresentando a auto-avaliação do funcionário e na sequencia o gestor mostra a sua propria avaliação e o consenso que chegou na reunião individual com aquele funcionário. Então, os demais gestores colocam sua opinião se concordam ou discordam da avaliação para evitar que um gestor mais exigente de uma nota baixa, um gestor menos exigente de uma nota mais alta e no final pessoal com performance parecida tem notas diferentes.
Varios casos me chamaram a atenção, mas teve um em especial que eu nao digeri muito bem ate agora. O funcionário se auto-avaliou com uma nota 7 (o ranking vai de 0 a 10) e o gestor concordou com a nota. Essa nota significa que o funcionário atingiu as metas de forma consistente e excedeu em algumas delas - seria uma avaliação boa e eu diria "ate um pouco abaixo" do que foi a performance desse funcionário. Ele trabalha proximo da minha area e temos um contato quase diario e posso dizer que o trabalho dele é realmente muito bom.
Juntando alguns exemplos, eu sugeri alterar a nota dele para 8 - o que automaticamente o colocaria na lista de funcionários de alta performance e que devem ser considerados prioritariamente para futuras promoções. Outros 4 gestores imediatamente concordaram comigo e isso ja criou uma "onda" positiva e a pessoa do RH mudou a avaliação para 8.
Ai veio um outro gestor e disse que achava que nao poderia alterar essa nota para 8 porque o funcionário nao deveria ser considerado para promoções. Ficou aquele silencio na sala, todos esperando o gestor colocar algum motivo forte - ja imaginava que o cara teria sido mal educado, teria feito uma "barbeiragem" enorme, comecei ate a pensar em coisas graves do ponto de vista de governança. Mas o gestor nao falou mais nada e ficou todo mundo olhando para cara uns dos outros.
A pessoa do RH veio alterar a nota para 7 novamente e ai um colega disse que nao - que tinhamos colocado motivo para subir para 8 e deveria também colocar motivos para voltar para 7, se fosse o caso.
Ai o gestor que criticou a nota disse que o funcionário realmente era muito bom e tinha um desempenho excelente - nada a comentar sobre as atividades que ele tinha sob sua responsabilidade atualmente. Mas ele tinha preocupação em poder contar com esse funcionário para uma promoção para cargo de liderança, pois ele observava que esse funcionário nao tinha muita "vontade" de crescer.
Antes mesmo que eu pudesse falar, um outro colega (Diretor de Engenharia) ja colocou que observava a pessoa sempre procurando fazer mais do que sua atividade regular e sempre envolvido em projetos importantes para empresa. Inclusive, essa pessoa tinha aceitado uma responsabilidade extra já há mais de um ano junto com o time de Engenharia e tinha ajudado a solucionar diversos problemas relacionados a taxa de falha de alguns componentes. Eu aproveitei e mencionei que esse mesmo trabalho, a pessoa também tinha ajudado no departamento de compras a criar um processo para relacionar as falhas e performance do fornecedor a um valor monetário - dessa forma possibilitava comparativas em cotações considerando o custo de nao qualidade.
Ai o gestor que criticou ficou mais acuado e teve de explicar seus motivos ... como disse, eu ainda nao digeri isso muito bem, mas o que ele colocou foi que nao poderia contar com esse funcionário para cargos de maior responsabilidade porque esse funcionário vivia comentando sobre independencia financeira e que queria se aposentar aos 45 para poder fazer uma viagem de volta ao mundo com a esposa. Vale lembrar que esse funcionário tem 31 anos de idade.
Eu imediatamente questionei comentando que nao poderiamos penalizar a pessoa por ter sonhos de aposentar cedo. Perguntei quem naquela sala que nunca tinha sonhado em largar tudo e ir viajar o mundo ? Nao poderiamos penalizar o funcionário que tem uma performance acima da media e traz resultados só porque ele esta planejando juntar dinheiro e se aposentar. Isso seria uma decisao pessoal.
Outros colegas também concordaram comigo e começou um debate grande ... mas, no final fomos voto vencido e o funcionário ficou com nota 7 e, infelizmente, ja "queimado" para futuras promoções porque o gestor ficou intimidado com a questao do cidadao querer se aposentar cedo.
Fica a consideração que quando entramos na empresa - é necessário vestir uma "mascara" do mundo corporativo. O funcionário nao pode chegar reclamando, mostrando cansaço, desanimo ou vontade de largar tudo e se aposentar. Eu estou chateado pela oportunidade que nao vamos dar a essa pessoa, mas mais chateado ainda porque o gestor nunca chamou esse funcionário para falar que abordar esses assuntos de aposentadoria precoce na empresa poderia fazer "mal" para a carreira e planos futuros dele. Pelo contrario, nas conversas esse funcionário sempre foi elogiado e teve performance acima da media. Então o cara esta se esforçando e correndo atras, mas nao sabe que um comentário desastrado de um gestor meio que ja fechou diversas portas para ele.
Então, vale o alerta para pensarmos bem quando abordamos esse tema com pessoas que nao estao no mesmo ambiente de independencia financeira - principalmente no mundo corporativo. É preciso uma certa sabedoria para tocar esses assuntos e como regra geral, eu diria que nunca devemos abordar esse tema na empresa ou com colegas de trabalho.
Um grande abraço,