Ola pessoal - tudo bem ? Conforme eu prometi, segue a segunda parte do compilado que estou fazendo sobre minha trajetória pessoal. Se nao leu a primeira parte, pode ler clicando
aqui.
Na primeira parte tem o resumo da minha trajetória como estagiário até profissional pleno. Porém quando estava nessa fase eu fiquei um pouco decepcionado por uma promoção que nunca chegava e quando chegou veio bem abaixo do que outros colegas promovidos receberam como aumento. Comecei a mandar CV para varias empresas mas nao surgia nenhuma entrevista interessante, até que um amigo mudou de empresa e indicou meu nome para trabalhar por lá.
Profissional Senior (26 - 28 anos) - R$ 4.600,00 / mês: eu fui bastante animado para entrevista, cheguei mais cedo e fiquei aguardando. No caminho, o meu famoso Scort aqueceu o motor e tive de parar tres vezes para dar um tempo e esperar esfriar - a ventoinha tinha quebrado. Cheguei cedo, mas um pouco suado e com mão suja de mexer no capo do carro. Fui ao posto de gasolina proximo do local e pedi para usar o banheiro para lavar as mãos e ficar mais apresentável. Chegando na entrevista, o meu futuro chefe (e naquele momento entrevistador) me fez esperar uma hora e vinte minutos na recepção. Ate achei que era algum teste para ver minha postura em situações como essa, mas vi que não era teste nenhum. Era só falta de respeito com as pessoas. Isso já deveria ter ligado um alerta na minha cabeça, mas como precisava do emprego e queria mudar de empresa, eu nao falei nada e mantive a postura. A entrevista em si durou uns dez minutos, sendo que parte das perguntas foram sobre o time que torcia e sobre bons restaurantes no bairro onde morava, ou seja, nao tinha nada relacionado ao trabalho ou a minha experiencia e formação. O processo ja estava com cartas marcadas (a meu favor, felizmente). Esse gestor nao suportava ficar entrevistando pessoas, então ele acreditava 100% na indicação dos funcionários e como eu fui indicado pelo meu amigo - eu ja estava lá dentro, mas ainda nao sabia.
Mas como nem tudo sao flores, demorou umas duas semanas e o RH da empresa me ligou oferecendo um salário menor do que havia combinado na entrevista. Eu disse que havia combinado outro valor, eles falaram que nao podiam pagar e que o gestor nao tinha autonomia para definir a remuneração - que isso era responsabilidade do RH. Fiquei em uma encruzilhada, mas como estava procurando outro emprego exatamente porque nao me sentia reconhecido em termos salariais, eu agi um pouco pela emoção e respondi que o gestor nao tinha autonomia para definir a remuneração, mas eu tinha autonomia para decidir por qual salário eu trabalhava e o valor minimo seria o que eu havia negociado. Percebi na hora que a pessoa do RH nao gostou da minha resposta, mas eles ficaram de retornar e passou mais duas semanas - pensei que tinha perdido a vaga e me arrependi de ter dado uma resposta mais agressiva. Eu percebi que ficar onde eu estava era pior do que aceitar ir com um salário menor do que o prometido (mas ainda maior do que eu ganhava). Na verdade, o que me incomodava era o fato de a empresa que eu trabalhava nao ter me valorizado na promoção como havia feito com outros colegas que eu julgava serem piores ou menos comprometidos do que eu ... De qualquer forma, apos duas semanas a empresa ligou e disse que aceitava pagar o salário que eu havia pedido. Na mesma semana me desliguei do antigo emprego, peguei meu saldo do FGTS e quitei meu apartamento. Agora tinha um Scort e uma residencia; mas nao tinha um real de reserva financeira. acabei "raspando" todo o saldo da poupança, do FGTS e tudo o mais que podia vender para ir lá e me livrar da prestação do financiamento imobiliário.
Aprendi muito com essa decisão, pois apos uns dois meses que estava no novo emprego - veio uma crise muito forte no setor e também uma crise na matriz que fica em outro país. Começaram os boatos de corte e redução de custo e eu fiquei com bastante receio de ser demitido porque sem reservas, eu ficaria com saldo negativo na conta em menos de um mes. Seria terrivel perder o emprego e nao ter como pagar as contas do mes, porque eu nao tinha reserva alguma - eu deveria ter mantido um minimo de reserva e ir amortizando o financiamento dentro de um prazo um pouco maior.
Para ajudar, nessa mesma epoca eu cometi um erro no meu trabalho. Errei em um determinado projeto e meu chefe quis aproveitar isso como justificativa para me demitir. Me chamou na sala e disse que eu nao havia atingido as expectativas em termos de qualidade do trabalho, que ele achava que eu era um profissional mais competente e eu havia cometido erro e que ele nao confiava mais em mim e por esses motivos iria me dispensar. Voltei para a mesa meio atordoado e comentei com a Sra EP sobre a situação. Para minha surpresa ela ficou tranquila e disse que a gente dava um jeito - se realmente eu fosse demitido, ela me incentivaria a trabalhar de garçom e pintor para manter a mente ocupada e ganhar algum dinheiro, enquanto ela tentaria arrumar um outro emprego para ela onde ganhasse mais, ja que no emprego atual ela ganhava bem pouco.
Fiquei um pouco mais tranquilo e fui embora para casa. Quando voltei no dia seguinte, um outro gerente me chamou na sala e perguntou se eu queria ser transferido para equipe dele. Ele tinha uma vaga e achava que eu poderia fazer a atividade e com isso evitaria que eu fosse demitido pelo outro gerente. Claro que eu aceitei na hora - melhor algum emprego do que nenhum, ainda mais no meu caso que nao tinha dinheiro para chegar ao final do mes.
Quando esse novo gerente foi solicitar a minha transferencia, o meu chefe nao permitiu e disse que iria manter a minha demissão. Por sorte, esse novo gerente nao gostava do meu chefe e decidiu comprar a briga e foi falar com o Diretor da area até que conseguiu me transferir e eu escapei de ser demitido. Claro que eu fiquei com uma divida de gratidão com esse gerente e trabalhei da melhor forma que eu poderia. Passava o tempo todo pensando em formas de melhorar o fluxo, processar informações mais rapido e reduzir custos. Ao final de um ano eu acabei promovido e ganhei um premio de reconhecimento.
Coordenador (28 - 30 anos) - R$ 7.800,00 / mês: com a minha promoção eu comecei a ter acesso a reuniões com os gerentes e diretores. Logo reparei que o fator politico era muito forte na empresa. Comecei a tentar cavar oportunidades para mostrar meu trabalho, sempre apoiado no bom resultado do ano anterior que tinha me garantido a promoção. Nessa época eu trabalhava de 13 a 14 horas por dia, respondia email no final de semana, nao faltava aos happy hours e tentava criar relacionamentos sempre que tinha oportunidade. O tempo foi passando e eu fui ficando cada vez mais descontente porque esse perfil politico é dificil para mim.
Normalmente eu sou aquele cara mais chato, mais conservador, as vezes eu olho para a pessoa que eu ainda nem conheço e ja nao vou com a cara dela, as vezes a pessoa fala alguma coisa e eu ja nao gosto, nao gosto de confraternização, nao gosto de roupas caras, relogios, etc... Estava praticamente me passando por outra pessoa para poder cultivar os relacionamentos e estar no meio do pessoal que sabia que conseguia as melhores oportunidades.
Ao final estava me sentindo infeliz e sem motivação nenhuma - e por esse motivo comecei a me consultar com uma psicologa. Foi uma experiencia muito interessante porque a gente teve uma empatia logo de inicio e eu me abri bastante com ela. Nas consultas comecei a perceber que havia muito mais na vida do que ser promovido e ter bom salário. E percebi também que eu estava buscando somente um titulo, status ... e coisas importantes, como a minha saude e momentos de lazer, estavam ficando em segundo plano.
Nessa mesma época apareceu um projeto grande na empresa que significava passar um tempo significativo na Coreia do Sul. Alem do aprendizado, a experiencia foi boa porque me trouxe uma boa bagagem internacional (que sempre ajuda nas experiencias no CV), me ajudou a melhorar o Ingles (tinha de me comunicar 24 horas em Ingles) e, principalmente, me ajudou a entender que existem formas diferentes de se viver.
Tomei um susto quando cheguei na Coreia, mas usei o tempo para aprimorar meus contatos e principalmente, melhorar o Ingles. Participei de reuniões, visitei fornecedores, clientes, fabricas, etc... Com uma visao muito mais ampla do negocio, foi mais facil fazer um bom trabalho por lá - mas também me lembro do quanto os coreanos trabalham - ficar 14 ou 15 horas no escritório é absolutamente normal. Então, eu comecei a dar um pouco mais de valor em ferias de 30 dias, FGTS, decimo terceiro, etc... Sao coisas que nao vemos em alguns outros paises e percebi como seria dificil trabalhar em um esquema assim por muito tempo.
Como eu fiz um bom trabalho por lá, eu voltei ao Brasil com certa cotação em alta para ser promovido a gerente. Havia um outro colega de outro setor também disputando essa vaga - e percebi que no dia a dia, ele tentava ao maximo colocar questionamentos no meu trabalho. Se estavamos na mesma reunião e eu apresentava algo ele era sempre o primeiro a questionar e colocar alguma fase do projeto em duvida. Percebi que nao adiantava também adotar 100% dos conselhos da psicologa e deixar tudo para lá, porque eu precisava pagar minhas contas e infelizmente nao existem só pessoas boas no mundo. Então, novamente, comecei a ficar atento nas oportunidades para ir solidificando meu nome na organização e criando uma certa marca de qualidade relacionada ao meu nome. Comecei a pegar os projetos mais dificeis e a cada resultado obtido eu fazia uma grande divulgação. Nao perdia oportunidade de mostrar o que estava sendo feito, mas novamente comecei a perder em qualidade de vida e ficar ate muito mais tarde no trabalho.
Nesse periodo, veio um novo diretor para a area. Era um profissional expatriado americano, que ja havia morado também na Alemanha, Coreia do Sul e Australia; e agora estava chegando ao Brasil. Logo na chegada dele, os gerentes organizaram um almoço com todo o time e foi uma disputa para ver quem sentava proximo ao novo diretor, quem conseguia puxar um assunto com ele, quem recomendava as comidas tipicas brasileiras, etc... Eu dei uma pisada na bola e cheguei atrasado ao almoço (nunca façam isso) e fiquei lá no final da mesa e ainda ele poderia pensar que sou um cara nao comprometido com horarios. Quando terminou o almoço, esse diretor chegou no meu gerente e perguntou se alguem poderia mostrar a cidade para ele no final de semana - e esse é o tipico programa que ninguem quer fazer. ninguem gostava de ficar visitando a cidade com os "gringos", então o gerente me chamou e me escalou para fazer esse trabalho. Como eu ja tinha chegado atrasado ao almoço, eu nao tive coragem de recusar e aceitei ficar de guia turistico do novo chefe "gringo".
Quando chegou na sexta feira, esse novo chefe me ligou para marcar o horario que poderiamos nos encontrar no sabado e também passar o endereço do hotel que ele estava. Eu confirmei com ele no periodo da manha e ele perguntou se eu era casado. Eu confirmei e ele perguntou se eu poderia levar minha esposa porque a esposa dele também havia chegado e ela nao conhecia ninguem no pais. Acabou que tive de arrastar a Sra EP também para o passeio - ela nao gostou da novidade, mas cancelou os compromissos que tinha e lá fomos nos fazer o papel de guia turistico.
Entretanto, quando as duas esposas se encontraram, por algum motivo que nao sei explicar, elas criaram rapidamente uma amizade. Tinham gostos e interesses parecidos e logo se tornaram amigas de frequentar a casa uma da outra para jantares e conversas. Logico que isso acabou também aproximado eu e o Diretor da area. Começamos a marcar passeios e jantares, me convidou para passar o Thanksgiving na casa dele, eu convidei para viajar nas ferias de final de ano e fomos ficando realmente muito próximos e isso influenciou também na empresa. Logo ele começou a me passar projetos mais importantes e com o resultado que foi entregue ele criou uma nova area e me promoveu.
Foi nesse momento que entendi o poder do networking. Por causa da amizade que se criou, eu tive acesso a projetos e oportunidades que normalmente seriam passadas aos profissionais com mais tempo de casa. Mas, obviamente, o Diretor buscou me favorecer e criou uma area especifica para eu gerenciar - com objetivos mais estrategicos, o que me levou a ter acesso a nivel ainda mais alto na empresa. Com certeza se eu nao tivesse levado ele para passear e se as esposas nao tivessem ficado amigos, muitas portas nao teriam sido abertas e minha promoção ia levar muito mais tempo.
Gerente (30 - 33 anos) - R$ 12.000,00 / mês: com a promoção para nova area, eu comecei a ter acesso a mais beneficios, além do salário maior. E ganhei também uma equipe com seis pessoas - tinha tres caras e tres garotas na equipe. O time ja era mais experiente e no primeiro dia na nova função, havia somente 05 pessoas lá. Estava faltando uma das funcionárias e eu descobri que na verdade ela estava em licença maternidade. Peguei o telefone e liguei para ela desejando felicidades para ela e o bebe, perguntei se estava tudo bem e deixei ela tranquila que quando voltasse o trabalho dela estaria lá e estavamos pensando em fazer coisas diferentes na area e ele seria parte do processo.
O meu time era muito bom - realmente nao tenho nada a reclamar, tanto que tenho duas pessoas que ainda hoje trabalham comigo. Os resultados foram aparecendo, meu chefe era um cara muito bom (talvez o melhor com quem já trabalhei), tinha uma proximidade grande com o Diretor (que havia se tornado meu amigo). Dessa forma, foram os dois primeiros anos, com o time atingindo bons resultados e a area sendo elogiada. Toda desconfiança por eu ter sido promovido por ser amigo do Diretor aparentemente desapareceu com os resultados que o time conseguiu - mas obvio que muita gente nao gostava, pois entendia que aquilo nao havia sido justo (e nao havia mesmo).
Após dois anos, uma das funcionárias voltou da licença nao remunerada que a empresa concedia para projetos pessoais (ela utilizou a licença para ficar com o filho por mais tempo) - era uma profissional competente e tinha muito conhecimento da area. Com umas duas semanas de trabalho, ela ja me chamou para tomar um café e me perguntou quando ela seria promovida. Eu rapidamente disse que nao havia nenhuma promoção a vista e que primeiro ela teria de retomar as atividades e mostrar resultados como o resto do time nesse periodo que ela ficou fora. Ela argumentou que nao era justo porque antes de sair de licença ela era considerada profissional de alto desempenho e proxima de uma promoção. Ela nao havia entendido que por mais injusto que pareça, quando voce fica dois anos fora da empresa, as coisas nao estao como voce deixou. A empresa continua, as pessoas sao demitidas e contratadas, as promoções acontecem, etc... Ela imaginava que só tinha dado uma pausa na carreira e iria continuar de onde havia parado - infelizmente isso nao acontece em lugar nenhum.
Logo essa pessoa ficou descontente e começou a causar problemas na equipe. Começou a criar fofocas no cafe, reclamava de todas as atividades e nunca entregava as coisas no prazo. Tive de chamar para conversar e a reação dela nao foi boa. Decidi dar um tempo para ver se as coisas se acalmavam, mas infelizmente as coisas só pioraram. A pessoa continuou tentando fazer intrigas, tentando cavar transferencia para outra area e para completar, ainda passou a deixar o trabalho de lado e nao entregar os resultados. Nao tive muita saida e levei o caso para meu chefe. Conversamos muito e chegamos a conclusao que iriamos tentar transferir ela caso alguma area estivesse precisando, mas ninguem quis aceitar. Nao teve muito jeito e tivemos de demitir a pessoa. Foi minha primeira experiencia demitindo alguem e eu fiquei muito mal com isso. Acho esse processo sempre traumatico - tenho colegas que nao se preocupam com as pessoas, mas alguem ter sua renda reduzida a zero do dia para noite é muito ruim. Tentei aprender com a experiencia e vida que segue.
Passado mais um ano, meu Diretor foi promovido a vice-presidente - ai as coisas ficaram ainda melhores para mim do ponto de vista profissional. Ele me convidou para fazer o planejamento estrategico da area e uma potencial transferencia para outro pais. Eu fiquei tomo motivado e comecei a novamente ficar ate mais tarde e trabalhar de final de semana para conseguir a transferencia. Recebi alguns aumentos de salário no período e continuei a entregar resultados acima da media, principalmente atraido pela possibilidade de transferencia.
Sabe aquela história da cenoura na frente do burro ? Pois é, a transferencia para outro pais foi a cenourinha que eu persegui. Como eu disse eu estava correndo atras dos resultados, ficando ate mais tarde, trabalhando de final de semana e praticamente nao tinha mais vida fora da empresa. Minha saude piorou, eu ganhei peso e fiquei estressado.
Nessa mesma epoca, esse vice-presidente me chamou e disse que tinha um projeto em outro Estado e que confiava que eu poderia liderar e que seria uma boa exposição e ajudaria na minha transferencia. Como eu estava querendo muito a transferencia, eu topei mudar para outro Estado. Fiquei um ano e meio morando distante da familia e foi um periodo emocionalmente ruim para mim. Entretanto, realmente o projeto me deu muita visibilidade e aumentou o meu networking com os executivos da empresa. Quando eu retornei para minha cidade após a conclusão do projeto, eu fui promovido novamente.
Gerente Senior (33 - atual) - R$ 13.600,00 / mês: com a promoção, eu comecei a ser responsavel por operações na America do Sul (referente a minha area e nao pela operação da empresa toda - nao sou o CEO) e fiquei esperançoso pois seria somente questão de tempo para conseguir a transferencia e experiencia internacional que eu tanto buscava.
Nesse meio tempo, eu comecei a ter diversos projetos e reuniões com muitos paises na Asia e Europa - muitas viagens, reuniões, almoços e jantares de negocio, etc... Tudo caminhando muito bem, quando de repente veio um "cisne negro" nos meus planos.
O Vice - Presidente que era meu padrinho politico teve um serio desentendimento com o Vice - Presidente Financeiro, e este ultimo, pediu a cabeça do meu chefe. Como o Vice - Presidente do Financeiro tinha um poder maior do que o Vice - Presidente da minha area, acabou que o Presidente decidiu demitir meu chefe. Ai foi aquela correria no departamento, meu chefe começou a se desligar de todas as atividades e recorrer aos conhecidos dele nos USA. Era dificil encontrar ele na empresa e quando estava na empresa nunca conseguiamos marcar reunião ou conversar com ele - claro que todas essas informações nós ficamos sabendo depois. Na época nao se mencionava que ele poderia ser mandado embora e eu ainda estava sonhando inocentemente com minha transferencia.
Então, um belo dia, esse meu chefe me chamou e disse: "EP - é o seguinte: eu te agradeço muito pelo que voce tem feito, aceitou morar em outro lugar, fez um otimo trabalho, inclusive final de semana e durante feriados; mas eu tenho uma má noticia. Estou com a minha cabeça em risco e preciso proteger meu emprego. Dessa forma, eu consegui uma transferencia para os USA, vou voltar para casa e outra pessoa vem para o meu lugar".
Nesse momento, eu pensei que ele ia fazer uma proposta para eu ir com ele devido todas as conversas e promessas de transferencia, mas ele apenas falou que ele tinha falado muito bem de mim para a pessoa que estava vindo para o lugar dele, me desejou boa sorte e lá se foi para os USA. Eu fiquei muito bravo, porque vi que tinha realmente feito o papel de burro correndo atras das cenourinhas e que todo esforço com o objetivo da transferencia tinha sido em vão. Depois que a raiva passou, eu pude ver que na verdade agora eu tinha um CV mais atrativo devido as experiencias que eu tive, os projetos que gerenciei e que em ultima analise, eu havia sido promovido e aumentado bastante meu salário.
Decidi que iria aguardar o novo chefe e ver como as coisas poderiam se ajeitar. O novo chefe chegou e as atividades continuaram na mesma base, até que após 5 meses com o novo chefe, ele anunciou que iria trazer um colega indiano. Quando ele anunciou as atribuições e atividades do indiano, eu percebi que eram muito parecidas com o que eu fazia - na hora eu vi que ele estava trazendo alguém para o meu lugar. Pensei que precisava me mexer rapidamente e liguei para meu antigo chefe para cobrar aquela transferencia, afinal de contas ele ja estava de volta a terra dele com contatos fortes e poderia me transferir para lá. Quando falei com ele eu percebi como as coisas de fato funcionam - eu nao era mais util para ele pois nao estava mais gerenciando projetos da area dele, então ele desconversou um pouco e quando cobrei a transferencia que ele havia prometido nos ultimos anos, ele falou que infelizmente nao seria possivel, mas que se eu conseguisse o visto para trabalhar nos USA ou Green Card - eu poderia bater na porta dele que ele me contratava. Mais uma vez eu me contive para nao mandar a pessoa para um lugar nao muito agradavel e me senti feito de idiota.
Imediatamente comecei a encaminhar meu CV para as oportunidades que achava interessante, mas nenhuma entrevista aparecia. Nesse meio tempo, meu chefe começou a me tirar de reuniões que eu participava e incluiu o colega indiano, depois foi me tirando de projetos que eu gerenciava e aos poucos foi me isolando na empresa. No inicio, eu ia nas reuniões mesmo nao tendo sido convocado, mas nao é uma situação que voce consegue sustentar por muito tempo. Passou um tempo e eu percebi que chegava no escritório e nao tinha nada o que fazer o dia todo - ele havia me isolado completamente. Comecei a tentar esclarecer com os colegas que eu mantenho ate hoje e um deles me ensinou uma coisa importante: ele disse que o sistema na empresa era igual o sistema politico. Eu havia encontrado um padrinho politico e ele havia me nomeado para diversos cargos e projetos; mas agora uma nova eleição tinha ocorrido e outro partido estava no poder; então seria questão de tempo para eu ser mandado embora, já que minha imagem estava muito colada a imagem do chefe anterior.
Compreendi a analogia (que eu considero perfeita) e comecei a acelerar mais ainda minha busca por outra empresa. Após algum tempo (acho que uns 4 meses) fui chamado para entrevista na empresa onde estou atualmente. Foi um processo rapido, onde a empresa estava precisando de alguem com minha experiencia pois haviam crescido bastante no mercado e precisavam arrumar a casa para garantir a entrega dos projetos / produtos para os clientes.
Como eu também estava buscando outro desafio e uma maior qualidade de vida (nada de ficar trabalhando de final de semana, etc...), nao foi dificil negociar alguns beneficios e logo eu aceitei a oferta e mudei de emprego. Novamente, fui muito feliz me desligar do emprego anterior, meu chefe nao fez muita questão de me segurar e percebi que meu ciclo definitivamente estava encerrado por lá e um novo ciclo estava se iniciando.
Cheguei aqui com um time muito imaturo, mas logo algumas pessoas foram mudando e hoje o time é bem coeso e competente. Essa competencia e resultado do time nos ultimos tres anos (além da puxada de tapete do meu chefe na empresa atual que ficou com uma vaga que seria minha nos USA), acabou despertando uma indicação desse mesmo chefe que me puxou o tapete para ser responsavel por uma area nos USA e iniciou o meu potencial projeto de transferencia que venho dividindo com voces. Na verdade, o escopo da transferencia se alterou um pouco e nao seria responsavel pela area somente nos USA mas sim na região Americas - o que me tornaria um funcionário corporativo. Isso representa um salto grande na hierarquia da empresa e uma oportunidade bacana para minha carreira e também para minha familia, pois seria uma transferencia para pais desenvolvido em região com uma maior qualidade de vida do que temos por aqui.
Esse é um resumo de como cheguei onde estou - claro que muito mais coisas ocorreram, mas aos poucos vou me recordando de situações que eu achar relevante e divido a experiencia com voces. Nao falei muita das experiencias da empresa atual porque ainda sao recentes e tenho de aprender com elas - além disso, como sao coisas recentes pretendo ainda manter o sigilo ate por se tratar de projetos de grande impacto e repercussao no mercado. Também nao atualizei salário e promoções na empresa atual para tentar manter um minimo de privacidade e sigilo.
Ate para nao me esquecer - fica o compromisso de na proxima postagem falar do resultado da transferencia e tentar abrir mais informações sobre esse processo, negociação, etc... até eu estou ansioso com o resultado da potencial transferencia para os USA.
Um grande abraço,